Esta edição bilíngue apresenta o último trabalho concluído pelo grande helenista brasileiro Junito de Souza Brandão (1924-1995): uma tradução primorosa, em prosa, da tragédia grega Os persas. Trata-se de um texto claro e direto, descoberto entre papéis que permaneceram inéditos por quase vinte anos. Encenada em 472 a.C., Os persas, de Ésquilo (525 a.C.-455 a.C.), é a peça mais antiga que se conhece. É também única por tratar de um evento histórico então recente: a batalha naval de Salamina (480 a.C.), na qual o poderoso exército persa foi derrotado pelos gregos. Representada para os vencedores, a ação se desenrola, no entanto, em Susa, a capital da Pérsia, e coloca em cena a angústia da rainha Atossa e a derrocada de seu filho, o grande rei Xerxes, responsável pela invasão à Grécia. O livro publicado pela Mameluco Edições, com texto grego estabelecido por Denys Page para a Oxford Classical Texts, é uma homenagem póstuma ao tradutor, figura singular na cultura brasileira. Autor dos três volumes de Mitologia grega, lançados pela Vozes entre 1986 e 1987, e dos dois do Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega, que saíram pela mesma editora em 1991 - para citar apenas dois grandes marcos de uma obra sólida e diversificada -, Junito Brandão foi um verdadeiro mestre, um dos principais responsáveis pela difusão, no Brasil, da cultura da Antiguidade clássica. Os caminhos percorridos, ao longo de quase duas décadas, pela tradução que ele fez de Os persas, do manuscrito às páginas da edição que aqui se apresenta, são narrados, logo no início do livro, pelo empresário Luiz Seabra, discípulo de Junito que se tornou depositário de seu texto. Em seguida, um depoimento do professor Antonio Medina traça um perfil sui generis de seu colega e parceiro de estudos. Completa esse quadro, ao final do volume, uma seção sobre a vida e a obra do tradutor. A maior homenagem reside, no entanto, nas palavras do próprio Junito. Junto à tradução, encontravam-se um breve roteiro de leitura e um texto de apresentação da peça, que também constam desta edição. Para coroar o conjunto, publicamos a transcrição de uma aula registrada em VHS na qual o tradutor faz uma análise muito original de Os persas. Assim como a própria tradução, todo esse material é inédito. O trabalho de edição e organização do volume - no qual se encontram inclusive mapas, para que o leitor de hoje se localize na narrativa de outrora - foi acompanhado, passo a passo, por Adriano Machado Ribeiro, professor de língua e literatura grega da USP, que, além de redigir parte das 68 notas que acompanham a peça, escreveu, especialmente para esta publicação, um breve ensaio sobre a origem e os elementos da tragédia, sobre Ésquilo e Os persas. A reunião de todo esse corpo de apoio à leitura de um texto, por si só, esplendoroso teve como objetivo facilitar e ampliar o acesso e a fruição dessa obra-prima da literatura universal. Um esforço editorial que está em sintonia com o espírito generoso de Junito de Souza Brandão.