:... “A história da modernidade capitalista foi uma história de outros lugares: a história de um centro que se serviu dos corpos e dos recursos naturais da periferia como combustível para sustentar a crença no progresso e no futuro, e uma enorme franja periférica que enxergava suas próprias contradições pelo prisma do desenvolvimento desse centro avançado — na expectativa de que o trabalho, as leis e a democracia nos retirariam da condição de dependência e atraso. A famosa definição de Deus, proposta por Nicolau de Cusa em 1440, descreve bem esse jogo de espelhos: a máquina do mundo tem, por assim dizer, seu centro em todos os lugares e sua circunferência em lugar algum — o centro vê outro mundo, a periferia vê o outro mundo do centro, e as margens permanecem invisíveis.