Rei Artur, de Allan Massie, poderia ser mais uma narrativa da lenda do menino-que-tirou-a-espada-da-pedra-e-virou-rei. Mas não é, e embora também conte essa história, apresenta um retrato muito mais amplo de um personagem histórico e de um tempo apaixonante. O livro pretende ser uma reprodução da narrativa de um sábio medieval, Michael Scott, a seu aluno Frederico II de Hohenstaufen (1194-1250), imperador do Sacro Império Romano. Além de contar a história, Scott se permite digressões sobre a veracidade do que é dito por poetas e ataques a outros historiadores e Massie nos entrega, além da saga de Artur, um instantâneo da mente medieval. O conhecimento do autor sobre o período faz com que o livro, além de uma leitura prazerosa, seja uma introdução ao modo de vida de uma época que, apesar de distante centenas de anos, ainda provoca fantasias. A cuidadosa descrição das disputas familiares e religiosas dá uma nova luz aos conflitos medievais. O texto é dividido em livros, e estes em capítulos. Começa com Artur, que até então vivera como plebeu, apanhando e sofrendo muito, cumprindo uma profecia. Ele consegue retirar de uma pedra a espada mágica, Excalibur, depois da morte do rei anterior e de todos os pretendentes desistirem do desafio, e assume o trono da Inglaterra. O livro dá mais atenção ao reinado de Artur do que às aventuras dos cavaleiros andantes, e termina com a morte do rei, traído por um sobrinho e derrotado por um exército muito maior e mais forte do que o seu. No meio, uma narrativa que mostra a força dos romances históricos e reafirma o poder das boas histórias.