Quando pequena/encantava-me com os pentes de madeira/de fragrâncias florais/perdia-me na mística que haveria de ter ali: guardar-se perfume de flor/em natureza morta. Assim com uma pergunta sobre o mistério, um enigma posto, incandescendo Juliana Dias abre este Antes de mais nada, seu livro de estreia. Como podem os cheiros, que são vivos, inscreverem-se num corpo frio, na matéria inânime? Há um vislumbre e um espanto que nascem aí, no litoral dessa pergunta. Agrupados em quatro seções, os poemas de Antes de mais nada repõem a incógnita própria do encontro entre os opostos, desdobrando-a na descoberta de que nós mesmos nos construímos pelo contraste entre o vivenciado e o perdido. Afinal, ao lado do tempo que se desenrola e se cumpre, corre outro tempo, feito de nossas desistências e abandonos, uma pilha de livros/não lidos/um rio de palavras/não vertidas /uma lista de projetos/não executados/um punhado de amores/não ateados. Não deixa de ser uma espécie de cronologia (...)