De Ésquilo (525-455 a.C.), considerado o criador da tragédia, temos hoje a trilogia Orestéia e mais estas quatro tragédias aqui apresentadas no estudo e na tradução. Todas elas têm em comum a reflexão sobre os limites inerentes a todo exercício de poder e sobre o caráter inelutável da justiça divina. Os persas (472 a.C) descreve um fato político recente, a inesperada derrota dos persas na batalha naval de Salamina, após terem invadido a Grécia e capturado Atenas. A derrota de Xerxes, prenunciada por pressentimentos do coro e por sonho e auspício da rainha mãe de Xerxes, mostra como o Nume intervém no curso dos acontecimentos, e assim opera a justiça divina. Em Os sete contra Tebas (467 a.C.), a rixa dos irmãos inimigos, filhos do rei Édipo e da rainha Clitemnestra, não se resolve nem quando, após a batalha, eles estão mortos e a cidade está salva e em paz, pois renasce no interior da família, entre a irmã e o tio dos príncipes mortos. Neste drama, a Deusa Éris ("Rixa"), filha da Noite imortal, também se chama Erínis ("Fúria"), por ser a face sombria de Justiça, filha de Zeus. As Suplicantes (463 a. C.) mostra o uso que um grupo de desvalidos exilados faz da coercitiva força do rito da súplica, e assim também os conflituosos limites que se configuram quando esse grupo de suplicantes obtém o suplicado asilo político. Prometeu cadeeiro (479 a.C.) põe em cena os Deuses Krátos ("Poder") e Bía ("Violência"), servos de Zeus, e o Titã Prometeu, inimigo de Zeus. O sentido mitológico das filhas do rio Oceano dá ao mitologema de Prometeu o sentido universal e fundamental, explorado pela reflexão sobre o exercício do poder, neste drama de Deuses e Titãs. A tradução, em versos livres, aspira a reproduzir não somente a clareza e simplicidade própria do estilo oracular de Ésquilo, mas também a dinâmica própria deste pensamento para o qual a verdade, assim como a justiça e a presença dos Deuses, é um aspecto inelutável do mundo.