A proposição freudiana de inverter a unidirecionalidade temporal ainda sustenta, mais de um século após a invenção da psicanálise, a experiência de que o tempo é sempre outro. Para aquele que fala, diz-se mais do que se quis dizer. Para quem escuta, a convergência do que é instante, fantasia, fim, origem, repetição, e também do que permanece irreversível, heterogêneo e indomável. Para ambos, as conseqüências das diversas mutações temporais ocorridas nas últimas décadas, marcadamente próximas de um certo tipo de instantaneidade, que vêm obrigando os psicanalistas a reexaminar, uma vez mais, para que serve a psicanálise. Psicanalisar hoje mostra, sob as diversas linhas de força presentes nos temas abordados, que o psicanalista deve estar à altura de seu tempo, e que isso pode ser entendido ao menos de duas formas: o tempo em que ele vive, entendido como o conjunto de incidências sociais, culturais, econômicas e políticas sobre o seu ofício, mas também a temporalidade inconsciente, ou seja, o modo como ele próprio subjetiva o tempo psíquico. Lêem-se aqui dez contribuições inseridas nas atividades de pesquisa desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu conjunto abarca considerações, reflexões e proposições sobre sintomas contemporâneos, como a obesidade e a anorexia; a respeito do ato, seja este o criminoso, o do cientista em sua experimentação ou o que caracteriza o final de análise, segundo Lacan; e, ainda, acerca de encaminhamentos teórico-clínicos para o estatuto da linguagem, o tratamento de fóbicos sociais e a psicanálise aplicada ao autismo e às psicoses.