A Escrituras Editora, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), publica Uso de penumbra, de Fernando Echevarría, organizado por Floriano Martins e ilustrações de Zé da Rocha. Uso de Penumbra é uma súmula poética, originalmente publicado em 1995, em Portugal, quando ganhou o Prêmio Complementar Eça de Queirós da Câmara Municipal de Lisboa, sendo talvez um dos livros de Fernando Echevarría mais longamente meditados. A obra organiza-se em torno de núcleos temáticos fundamentais: a pintura, o desenho, a escultura, a dança, a música e a própria poesia, o que significa que a matéria do livro é a arte. Assim, a questão que de imediato se coloca é a de saber como se estabelece a relação da poesia com as outras artes e de que modo os diversos referentes artísticos, passando a ser objetos de uma arte verbal, desencadeiam uma experiência estética de segundo grau. Daí que, em Uso de Penumbra, o leitor experimenta a sensação de estar perante um livro onde a tensão intrínseca entre a luz e a sombra, ou o excesso e a carência, se resolve numa espécie de transparência enigmática, em imagens analógicas de potencial abstrato. Recusando a paráfrase, cada poema procura retirar do claro-escuro dos objetos contemplados um sentido alusivo, plural, indissociável da sua estrutura. Uso de Penumbra é um livro de uma beleza lúcida e enigmática, onde as coisas nomeadas só existem como signos da profundidade misteriosa de que emergiram. Na sua transparência, a linguagem poética infunde uma verdade que nos excede e que é, por isso mesmo, sublime.