Evidências do real não é apenas mais um livro sobre os Estados Unidos pós-11 de Setembro. Trata-se de um estudo das relações entre a história, a realidade norte-americana atual e a produção cultural que eclodiu tendo como objetivo conter a crise deflagrada pelos atentados terroristas. A obra fura o bloqueio da censura imposta pelo governo Bush a todos que pretenderam emitir críticas ou opiniões contrárias ao conjunto de medidas tomadas após o 11 de Setembro, medidas essas já amplamente analisadas por intelectuais de outros países. Evidências do real traz o olhar de Susan Willis, estudiosa norte-americana de cultura popular, diretamente do olho no furacão. O cotidiano da população dos Estados Unidos, segundo a autora, está relacionado a uma série de ficções culturais populares, veiculadas pelos meios de comunicação de massa e engolidas sem maiores reflexões. Exemplos como a produção do baralho "Ases do mal", com as figuras dos "terroristas mais procurados", e programas governamentais que pretendem transformar cidadãos comuns em espiões de vizinhos dizem muito sobre a conjuntura do país. Mais ainda quando a análise aproveita os mesmos elementos utilizados nessas construções. O livro, segundo Willis, "desmonta a cultura com as armas da cultura". Os ensaios que compõem esta obra preservam uma linguagem que procura capturar a forma de expressão norte-americana. Tomam como ponto de partida, eventos ou fenômenos que tenham sido tratados de modo trivial ou reducionista. Abordam temas como patriotismo de massa, o fenômeno do antraz no contexto do consumo de massa, canção popular, governo paralelo, estatuto do risco e violência. Willis demonstra que, por mais banais e aleatórios que pareçam, esses elementos são evidências da realidade histórica norte americana. Nas palavras da autora, "o livro é uma cartilha sobre os modos de ler tais evidências como indicadores da nossa realidade".