Segundo uma arraigada representação, dicionários são lugares de infinito conhecimento. Desde a Idade Média, registra-se a presença de sumas que evocam a ilimitada memória dos jardins do saber. Já no Renascimento, sábios diversos se preocupavam em dispor em ordem as coisas memoráveis, a fim de poder aí beber como quem bebe de um tesouro. Ao longo da Época Moderna aperfeiçoaram-se instrumentos que permitissem reagir à fraqueza da memória diante de tantas novas informações. Para navegar com segurança no vasto oceano do conhecimento humanístico, começam a multiplicar-se os dicionários em todas as áreas. Descendente dessa primorosa linhagem, o belo Dicionário Histórico das Minas Gerais Período colonial vem preencher com excepcional qualidade uma lacuna. Bem escrito, bem apresentado, ancorado em preciosos verbetes, ele atende à necessidade de saber facilmente o que as palavras e os nomes querem dizer, captando todas as suas nuances. Multiplicando a capacidade de registrar, de fazer circular, de transmitir informações, ele inventaria fatos, figuras e processos dos mais aos menos conhecidos. Ele vai do grande homem ao anônimo da história. Ao iluminar, também, a palavra e os atos da gente ordinária, a obra esposa as tendências mais recentes da historiografia, centradas em capturar o vivido dos atores no seu próprio tempo. Acompanhando a história da cultura, da sociedade, da política, da economia, o dicionário opera como uma das muitas próteses da memória. Prótese tão mais adequada quanto ela pode ser usada por todo o tipo de leitor. Memória tão mais necessária, quanto, neste país, tudo, ou quase tudo, se esquece. Mary Del Prioref