Paulo Miranda é um desses artistas que vive perigosamente arquitetando possibilidades, refazendo escombros, costurando pedaços, reconstruindo superfícies, num jogo racional e emocional de desconstruir o construído para colocá-lo em forma novamente, repetindo, quero dizer, recriando como Sísifo, condenado pelos Deuses a carregar eternamente a pedra/espiral da criação. O papel, no início de sua carreira, há vinte anos, foi a mola propulsora para suas investigações. Paulo encontrou nesse material possibilidades infinitas, fosse colando papel sobre papel - branco sobre branco, preto sobre branco, preto sobre preto. E no esfregar, arranhar, construir e destruir de superfícies transformou os espaços em partes indivisíveis, onde o suporte vira corpo da obra e não contenta mais em só ser suporte. Paulatinamente, Paulo, com sua linguagem pessoal, vai se impondo e abrindo caminhos, encontrando uma forma poética de falar da diversidade do mundo, dando visibilidade inconfundível à sua criação e tecendo comentários sutis sobre nossa precária existência.