Um livro que evoca renascimentos e mortes - assim, no plural - a que somos submetidas no tempo do ‘não’, da doença sem nome e sem fim. Do que nos constitui e teimamos em negar. De tudo o que se estende à tardia tomada de consciência sobre o trauma, o medo, o erro, o ‘fracasso’. Até a noite do confronto, aos 37 anos, quando o Grande Medo mostra sua face tenebrosa em um momento de felicidade. Há muitas vozes precisando falar, para quem foi descobrindo, ao longo da vida, ‘a largura e o comprimento das interdições’, diz a autora. Com resignado fatalismo, na infância; um ‘silêncio gritante’ na infância-adolescência, durante os anos da depressão do pai; uma sensação de ‘espectadora da vida’, na juventude; e um ressentimento protocolar, na fase adulta. Até ser surpreendida por todas as vozes gritando, em uníssono, na fase feliz da ‘maturidade’. Em meio ao tumulto interno, que a autora também chama de ‘inferno’, duas vozes sobressaem: a menina e a mulher. Assustadas. A menina que só agora consegue verbalizar. A mulher que só agora pode elaborar. Ambas doem, choram, se ressentem. Ambas têm que enfrentar - não porque querem, pois que são obrigadas - o grito reprimido. A doença sem fim, sem nome, que finalmente se prenuncia.Ambas – e mais tantas, que se revelam no caminho - desfazem a mentira do sofrimento educado, com ‘bons modos’. Reexaminam o tempo do ‘não’, resgatam o tempo do ‘sim’ na figura amorosa do pai. Abrem muitas veias até chegar ‘a um outro tempo’, com descobertas imprevisíveis e libertadoras. A autora – seja a menina, seja a mulher – não propõe soluções. Todo percurso é subjetivo, viver é ‘morrer e renascer a cada emboscada, infame ciclo da vida’. Olhar para trás, entender e ressignificar o ciclo, é tarefa árdua. Dolorosa. Renascimento