No dia 10 de abril de 1893 parte da população do Soure, vila pertencente à comarca de Itapicuru, na Bahia, protestando contra novos impostos, destruiu as tabuletas afixadas no barracão de feira. A população manteve-se levantada por dezessete dias, até que, em 27 de abril, frente à iminente chegada de tropas do governo, evadiu-se do local. Antônio Conselheiro, que chegara ao Soure depois do dia 17. quando a sedição já atormentava as autoridades, saiu da vila acompanhando os levantados. O presente livro busca recuperar, para o século XIX, o cotidiano das populações que habitavam nas vilas de Itapicuru e Soure - roceiros, vaqueiros, pequenos sitiantes, artesãos, criadores e senhores de engenho - cujos filhos, netos e bisnetos viriam, ou bem a se juntar aos moradores do arraial de Canudos, ou a brigar por sua destruição, como fez o Barão de Jeremoabo. Os setenta anos que antecederam à fundação do arraial foram pródigos em transformações econômicas e políticas que abalaram profundamente as práticas sociais, ameaçando a continuidade de costumes que garantiam formas de acesso à terra, a existência de espaços de negociações e autonomia e mesmo as relações de auxilio mútuo fundamentais para a subsistência de livres pobres, libertos, escravos e indígenas das aldeias da região.