Aos seis anos, Mary Ward teve uma revelação: ela era um menino! A descoberta aconteceu no momento exato em que sua família dedicava dois minutos de silêncio em memória ao Rei George. Não que um fato tivesse a ver com o outro - foi uma coincidência, um relâmpago em meio à serenidade do campo. "Sou um garoto", era só nisso que pensava Mary. Em "Terra sagrada", de Rose Tremain, o leitor verá como se passaram os 30 anos seguintes na vida do paradoxo Mary/Martin, um menino que, por engano, nasceu dentro de um corpo feminino. O núcleo familiar se completa com o irmão, Timmy, desde pequeno um usurpador do afeto destinado a Martin. O tema central de "Terra sagrada" é a saga de Mary em busca de Martin. Numa narrativa entremeada por trechos em primeira pessoa de Mary e Estelle, Tremain pincela o cenário repressivo da vida rural inglesa dos anos 50, a Londres dos 60 até a América alternativa de Nashville dos anos 70. Mary acaba fugindo de casa, passa por muitas cirurgias para troca de sexo, faz psicanálise, enfrenta amores e desenganos. Abordando temas como a loucura, o desajuste social e a transexualidade, a autora rearfirma seu talento ao investigar, os mistérios e contradições do homem moderno, dividido entre seus dramas pessoais e as mudanças históricas que não consegue compreender.