Qual é o estatuto da invenção poética na modernidade? A linguagem liberada do peso coercitivo da tradição e da convenção entra num livre jogo com as heranças culturais mais heterogêneas, criando assim novas formas artísticas que apontam para visões inéditas do mundo e da condição humana. O livro ora apresentado, de Kathrin H. Rosenfield, rastreia estas aberturas em diferentes momentos da história da arte: na figura do amor cortês medieval, nos romances de Goethe, Musil e Guimarães Rosa, na obra lírica de Hölderlin, no teatro de Pirandello e na arte abstrata de Kandinsky. Marcadas pela aventura e pela errança, todas estas obras assignam seus autores num lugar insólito. Estes deixam de ser autoridades que dominam a sua obra para serem trabalhadores pelo próprio discurso como se este lhes viesse de outro lugar. Explorando esta inquietante estranheza, o autor se descobre homem sem qualidade — e portanto sem essência determinada —, sujeito freudiano que não é, mas que é-suspendido num jogo de possibilidades infinitas surgindo do intervalo entre um passadoe um devir.