Passagem para o Depassagens. Portugal veio pra dizer que a poesia está viva e bem disposta. Que a poesia tem fôlego, corre páginas. Não cansa na primeira idéia, não se conforma em dizer pouco. Pelo contrário, num mesmo poema há uma série de assuntos, de fragmentos que poderiam sozinhos inaugurar novos poemas. É poesia filha da polifonia do Mário de Andrade, que também desemboca no Waly Salomão. Cada um ao seu modo. O modo de Portugal é sempre recomeçar e reterminar. Cada conclusão abre uma nova fenda de onde vêm a vida e a poesia dialogando. Esse diálogo com a vida, pessoal, coletiva, com a vida das idéias, das crenças, das formas, dos sonhos. É nesse espaço que se faz o discurso poético do Portugal. Isso desde o Antena Tensa, resgatado aqui, entre tantos inéditos. Não há muitos poemas como os dele. Talvez só na prática do haicai ele se aproxime de uma possível dicção de geração. No mais, é tudo com sua marca própria. Tropicalismo, contracultura, militância, zen, psicanálise, sentimentos, tudo entra no seu liquidificador poético. E tudo se tritura, vira caldo para mais e mais linguagem. Do Buda ao Chacrinha. A beleza das imagens, os ritmos marcados, a fala de um poeta. Eis aqui, de volta, Ricardo Portugal. E com vocês o poeta, como ele mesmo se anuncia num dos seus mais antológicos poemas.