quando leio um livro de poemas, geralmente dois caminhos se me abrem: ou sinto aquela ânsia em responder a pessoa, como se tudo que está escrito ali fosse destinado a mim numa conversa infinita, ou dá uma espécie de despersonalização, um tipo de barato \u201ceu escrevi isto\u201d - nesse caso autoria é uma rasura e se respondo é a mim mesma, como se estivesse nesse hospital psiquiátrico que é a própria mente cheia de espelhos quebrados que diz \u201csim a poesia bate-volta, é sua e é minha e é nossa\u201d. o livro de estreia de murilo lense é um híbrido dos dois tipos, abro-o e abro-me: \u201cao ler poesia\/\/ às vezes salto\/ as estrofes do meio\u201d, mas aqui não me detenho, continuo indo fundo porque sim \u201ceste é um texto livre\u201d, afinal ele sou eu, texto-corpo que pensa, vive, goza, tem ansiedades - tal hora me pergunto \u201cama?\u201d então não me detenho, sigo sendo poema viva.