Em sua oficina, Paulo César Baptista de Faria, cuidadosamente separa suas ferramentas para mais uma tarde de trabalho. Serra alguns pedaços de madeira, já desgastada pelo tempo, lixa sua superfície e laterais, martela alguns pregos e, finalmente, enverniza o antigo baú. Paulo César, que cultiva há anos a marcenaria, é mais conhecido, por seus trabalhos musicais, como Paulinho da Viola. Como antigos baús restaurados, o samba e o choro ganharam, através das mãos do artista, o fôlego que precisavam para, novamente, decorarem a cena musical brasileira. Se por um lado, destacar Paulinho da Viola como o único responsável pela manutenção destes gêneros, como artes vivas em nosso cotidiano, seria uma injustiça com tantos outros importantes músicos, por outro, não há dúvidas de que, através dele, tanto o samba quanto o choro, experimentaram novos caminhos e novas fantasias. O que faz de Paulinho um artífice musical admirável e único é sua competência e facilidade de mover-se por aqueles que são considerados os dois estilos musicais mais afinados com a alma carioca. Como alguém sensível o bastante para reconhecer a beleza de cada peça de madeira, Paulinho da Viola é uma dessas pessoas que insistem em pensar no futuro sem esquecer o passado