Convido o leitor a penetrar não surdamente aqui no quarto do autor. Faça-o com todos os seus sentidos. Não é necessário chave. Toque a maçaneta, gire-a e aprecie o rangido da porta. Ofusque os olhos com o azul da luz. Respire a dúvida contida na fumaça do pavio da vela que ora se acende, ora se apaga na lembrança daquele que se faz hóspede em seu próprio regaço, pois que sua alma já fez morada onde o corpo se encontra impedido de pousar. Deguste o doce ou o amargo do amor, da saudade, do desejo Entre. Mexa nas gavetas da sua escrivaninha. Ouça o violino. Contemple o teto, o céu do poeta, o seu limite. Participe. Não há passividade na leitura. Mas não perturbe. O poeta encontra-se procurando o sono ou sonhando com o passado ou com o futuro. O presente é áspero para o seu coração. Tempo difícil. Mas há um leve aroma de esperança nos traçados e adiados planos do escritor. Chegue. Esteja com ele. Faça-lhe companhia. Havendo timidez, você poderá observar também da fresta da janela que (...)