Carioca de múltiplos talentos, o escritor, jornalista, músico e pintor Rodrigo de Souza Leão morreu prematuramente em 2 de julho de 2009, aos 43 anos, em uma clínica psiquiátrica. Autor do romance Todos os cachorros são azuis — finalista do prêmio Portugal Telecom 2009 e que ganhará uma adaptação para o teatro — e da reunião de poemas Caga-regras, o escritor conviveu com a esquizofrenia por mais de 20 anos. O que não o impediu — muito pelo contrário — de produzir intensamente, principalmente no mundo virtual: foi coeditor da revista eletrônica Zunái e autor de uma série de e-books e blogs. ME ROUBARAM UNS DIAS CONTADOS é a última narrativa de fôlego escrita por Rodrigo de Souza Leão, que chega às livrarias pela Editora Record na data em que completa um ano de sua morte. O texto inédito, organizado pelo poeta e jornalista Ramon Mello, curador de sua obra, é um romance que beira a autobiografia, em que Rodrigo é, ao mesmo tempo, autor e personagem de suas próprias histórias. Mas ele ignora com habilidade e extrapola esses limites em que a noção de realidade está o tempo todo em expansão, produzindo uma comunidade de muitos protagonistas.Em ME ROUBARAM UNS DIAS CONTADOS, a polifonia de vozes tece laços, mais do que afetivos, criados pelos personagens. Não há um único Rodrigo, há muitos e distintos entre si. Mas entre tantos personagens o leitor com certeza localizará semelhanças e serão essas semelhanças que farão o livro — sua vertiginosa história — fluir com a naturalidade, ora de um conto de fadas, ora de um romance policial, como explica o poeta e amigo Leonardo Gandolfi, que assina a apresentação do livro.Humor, ironia, derrisão fazem as palavras, muitas vezes duras, fruírem espontaneamente em meio a sorrisos amarelos. Como o autor se desdobra em personagens, este livro se desdobra em outros livros – o que só faz sentido se estiverem reunidos dentro do mesmo caos: sexo virtual, gozofones, eletrochoques, perseguições da CIA ou KGB, filmes, músicas, pinturas, poemas e cacos emocionais...ME ROUBARAM UNS DIAS CONTADOS é um belo mergulho na condição humana; em especial, na dura tarefa de existir de um escritor, que convive não só com seus fantasmas, mas também com seus remédios.