Em 1919, em torno de considerável agitação dos estudantes de medicina de Budapeste quanto à inclusão da psicanálise no currículo universitário, Freud publicou um pequeno texto chamado Deve-se ensinar a psicanálise nas universidades?. Nesse texto, abordou a conveniência e a importância, à luz da teoria psicanalítica, do estudo dos fatores psíquicos que ajudam a esclarecer não só as doenças e seu tratamento, como também as funções vitais do ser humano, concluindo que os estudantes de medicina, embora não alcançassem por esse meio o aprendizado da verdadeira prática psicanalítica, seriam levados a aprender algo sobre e a partir da psicanálise. Ao longo dessas quase nove décadas que já se passaram, as relações entre os discursos psicanalítico e universitário se mantiveram, mesmo que sob diferentes ênfases, resistências e impedimentos. No Brasil, sobretudo nos últimos anos, a disseminação de cursos de pós-graduação voltados para a psicanálise tem aumentado substancialmente a circulação do que acerca dela se produz (e se pode produzir) nas universidades, deixando às claras a relevância ou não dessa produção. Os nove artigos aqui reunidos procuram justamente avaliar, de um lado, as condições de possibilidade da presença da psicanálise no contexto universitário e, de outro, as implicações éticas, as incidências do estilo e a função da transferência presentes nesse convívio. Sua leitura nos faz ver que, de certo modo, trata-se de, renovadamente, aprender a ensinar a psicanálise àqueles que se interessam por ela no contexto universitário. Isso porque é preciso não só responsabilizar-se pelos modos como o estritamente analítico comparece no que se ensina, como também visar, minimamente, tanto ao desejo quanto à divisão desses sujeitos que, muitas vezes, chegam ao curso universitário querendo apenas a garantia de virem a saber mais e mais o que é a psicanálise.