O segundo livro da coleção Memórias do Futuro, organizada pelo poeta, tradutor e acadêmico Marco Lucchesi, é fruto de uma imaginação tão prodigiosa que parece saída de um conto de Jorge Luis Borges. A eternidade pelos astros é uma desconcertante especulação cosmológica levada a cabo por Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), mais conhecido, talvez, como teórico socialista e revolucionário. Pouco importa que os pressupostos da hipótese levantada por Blanqui tenham sido desmontados pelas descobertas do século XX. A beleza do livro que temos em mãos não deve ser mensurada pela sua importância científica, mas, sim, pelo modo como se desenrola a argumentação, pela riqueza das analogias e pelo brilhantismo sardônico de seu estilo. Aqui, química e poesia andam juntas, para tentar desvendar a dinâmica do universo e a existência humana. Blanqui postula que o universo, infinito em seu conjunto em cada uma de suas frações, é composto por um número finito de elementos, os corpos simples, de tal forma que, para preencher a imensidão, a natureza tem que repetir, infinitamente, cada uma das suas combinações originais ou tipo. Os tipos seriam sistemas estelares, os quais se repetiriam infinitamente. O nosso sistema solar seria, por exemplo, uma das combinações originais. Dele seriam retiradas bilhões de provas e, de cada uma dessas provas, faria parte uma Terra idêntica à nossa, uma Terra sósia. Mais do que isso, cada um de nós teria, na imensidão, um número sem-fim de duplos que vivem as nossas vidas; seríamos infinitos e eternos nas pessoas de outros, não apenas em nossas respectivas idades atuais, mas de todas as suas idades. A eternidade, portanto, é a eternidade da repetição, e a ideia de progresso só faria sentido aos nossos pequenos olhos, perdidos numa imensidão que somos incapazes de compreender. A viagem empreendida por Blanqui vai, assim, em dois sentidos ao mesmo tempo contraditórios e complementares: rumo ao infinito, mas também ao que há de mais ínfimo, procurando fixar tanto a estrela quanto o grão de poeira. Leitura indispensável aos interessados em refletir sobre a história, mirando em novas possibilidades para o futuro. O segundo livro da coleção Memórias do Futuro, organizada pelo poeta, tradutor e acadêmico Marco Lucchesi, é fruto de uma imaginação tão prodigiosa que parece saída de um conto de Jorge Luis Borges. A eternidade pelos astros é uma desconcertante especulação cosmológica levada a cabo por Louis-Auguste Blanqui (1805-1881), mais conhecido, talvez, como teórico socialista e revolucionário. Pouco importa que os pressupostos da hipótese levantada por Blanqui tenham sido desmontados pelas descobertas do século XX. A beleza do livro que temos em mãos não deve ser mensurada pela sua importância científica, mas, sim, pelo modo como se desenrola a argumentação, pela riqueza das analogias e pelo brilhantismo sardônico de seu estilo. Aqui, química e poesia andam juntas, para tentar desvendar a dinâmica do universo e a existência humana.