O lendário amazônico feminino -- guerreiras amazonas, princesas icamiabas, sinhás, vitórias- régias, arigós, caboquinhas, cunhãs, etc --, tem como fio condutor a lenda do boto fêmea, que faz a defesa da mulher/natureza contra a invasão do homem/estrangeiro, no palco do Teatro Amazonas, revelando por entre a renda das folhas tropicais, um pouco da trama da vida. A folha da mimosa pudica, do taperebá, do amor-crescido e finalmente, a folhagem na folha de papel almaço, mostram, como diz a autora que "folhas são com peles" - e ela queria escrever na pele das folhas. O livro tem quase a forma de uma agenda: nele estão anotados compromissos importantes com o vocabulário, a linguagem, a Amazônia, a natureza e a própria vida. O Brasil dos brasileiros, a Amazônia, sua riqueza a ser preservada, mantida longe do explorador, são descritos numa linguagem profundamente poética, que mergulha constantemente na saudade, na essência da saudade. A busca do muiraquitã, o amuleto protetor, o romance que extrapola descrições e é feito só de emoções, o enigma da esfinge, compõem a trama que segue a trama da renda das folhas: sem linearidade , o real e o imaginário se fundem sem uma seqüência lógica e, como afirma a autora, "é a trama que forma a renda".