Sem Terra Com Poesia analisa o sentido pedagógico e político da produção poética dentro do MST, destacando a dimensão educativa do ato simbólico-cultural de criar e se comunicar pela poesia no desenrolar das lutas que compõem o cotidiano de acampamentos e assentamentos. Mostra como os Sem Terra utilizam poemas e cantos para registrar a memória coletiva da luta pela terra, enquanto vivem uma experiência de produção artística que em alguma medida antecipa as conquistas da luta e expressa seu projeto de sociedade. A poesia simboliza a luta e se torna uma ferramenta pedagógica de amadurecimento político e cultural dos sujeitos que a produzem e dela se apropriam. O livro está sendo reeditado pela Expressão Popular três décadas depois de sua primeira publicação. A reedição considerou o pioneirismo da obra e a importância crescente do debate que articula as dimensões da cultura, da educação, da política e da produção no MST, como no conjunto da sociedade. Optou-se por manter o texto original da publicação de 1987 exatamente pelo caráter exploratório da pesquisa que lhe deu origem: trata-se de um dos primeiros estudos realizados sobre o MST. Na época o MST era uma novidade. E era novidade no MST discutir a questão da cultura e do papel da arte e dos artistas na organização, embora já estivessem presentes em seu dia a dia. Muita coisa aconteceu desde lá. Não a Reforma Agrária. O MST hoje tem um grande acúmulo no debate teórico da cultura e na produção da arte em suas diferentes linguagens. Seus coletivos vêm formulando o projeto cultural do Movimento como parte de sua estratégia de luta e construção da Reforma Agrária Popular. A chave de compreensão proposta pela pesquisa continua atual, enfatizando a necessidade da reapropriação democrática dos bens culturais e analisando as relações que o processo de criação artística estabelece com o processo de formação da consciência, ao encarnar as contradições sociais que definem a produção cultural em uma sociedade de classes.