Ora vítima de clausura na mais abjeta miséria, ora tornada senhora de palácios, vivendo romances reais e imaginários com os mais belos e corajosos senhores do Japão, Chacha, a heroína e senhora de O Castelo de Yodo, sempre se manteve fiel a si mesma - a prova viva de que a palavra ?samurai? não tem gênero. O soldado de retidão moral e lealdade inquebrantável talvez tenha sido a única constante no Japão do violento século XVI, palco de intrigas cruéis, rejeição da fé católica e consolidação do modelo militar feudal, que dariam ao país sua identidade política pelos trezentos anos seguintes. Essa sucessão a um tempo detalhista e grandiosa de panoramas de incêndios magníficos, banquetes abundantes, batalhas terríveis e castelos imponentes custou seis anos a Yasushi Inoue, cuja arte é semelhante à do pintor de telas de grandes dimensões, desenhando cenas com centenas ou milhares de figurantes sem perder a atenção ao detalhe, ao ângulo do luar, ao som da barra de um quimono que desliza lentamente pelo chão. O ritmo deliberado da narrativa usa a modulação da música clássica japonesa e do teatro nô, obtendo grandes efeitos dramáticos em uma obra de um realismo severo. A psicologia das personagens, imaginada com rigor quase matemático, tem a força de camadas tectônicas que se movem vagarosamente, provocando grande destruição ao entrarem em atrito.