Quando do negro baço nasce a luz Negro Silêncio apresenta-se como uma poesia assumidamente devedora do contacto íntimo com a obra escultórica de Rui Chafes logo no título, mas sem que isso se traduza em réplicas poéticas desta ou daquela obra, nem na prática «ecfrástica» de um discurso sobre um objecto que lhe é exterior, como a encontramos numa já longa tradição da poesia portuguesa contemporânea, pelo menos desde as Metamotfoses de Jorga de Sena. Aqui, a Obra do escultor (mais o seu espírito do que a sua matéria) vai sendo absorvida e integrada no próprio corpo do poema nos motivos que discretamente vão espreitando, na conivência e convergência de um modo de ler o mundo, com a inevitável opacidade desse espaço de vida activa, hoje alucinadamente activa, onde tudo «sempre esteve errado» (Rui Chafes). A esse «escuro labirinto» contrapõe esta poesia exercícios poéticos que, como a prática artística de Rui Chafes, tendem a suprir o vazio e a não-existência dos objectos do mundo[...]