Ao longo de nossas viagens, carregamos na garganta o gosto de muitos anos desde que iniciamos como professores em escolas públicas no Rio Grande do Sul e de Brasília. Nessas caminhadas pudemos reviver aquilo que achávamos não existir mais. Dolorosa ilusão, lá está ela, a mesma escola caserna, a mesma mágoa sobre os negros e pobres, por serem pobres, sujos, esfarrapados, esfomeados e negros. Este livro em nenhum momento foi realizado solitariamente, entre quatro paredes. Desde o início, a sua construção contou com presença provocadora dos "pequenos" companheiros e companheiras que jamais tiveram medo de ousar, se aventurar, se arriscar e reinventar o cotidiano corajosa e solidariamente. São muitos: Aldeir, João, Samuel, Zé, Evelyn, Pedro, Pablo, Carol, Danilo, Júlia, Carlinhos, Patrícia e tantos outros que se perderam por aí... Como amigos-guerreiros, em meio à fome e ao desalento, fizeram-nos menos ignóbeis. Será? Eles e elas sim merecem um filme, um livro, um título, uma vida digna... Uma rua com seus nomes não é o suficiente. São os nanicos super-heróis e seus corpos magrelo-pançudos que merecem uma revolução! É sobre o corpo da criança que buscamos como diria Foucault a tecnologia da dominação corporal, nas brincadeiras, nos jogos, nas rotinas diárias e incansáveis que não apenas condenam as crianças a um servilismo sem precedentes, mas que, forjam o adulto-trabalhador leal a sua própria exploração como ser humano.