A fidelidade à terra (Assim falou Nietzsche IV) tem como proposta principal refletir sobre o instigante pensamento nietzschiano e sua profunda influência em diversos âmbitos da cultura contemporânea. Nestes tempos niilistas, em que o efêmero e provisório predominam, em que a fugacidade de todos os projetos e a inconsistência de todos os valores imperam, a proposta de permanecermos fiéis à terra pode significar um sintoma da força de uma filosofia que convoca, que agrega esforços pensantes quando tudo desmorona. O retorno de Nietzsche ou o retorno a Nietzsche parece desafiar a ditadura da moda. Há, nele, idéias que impelem à repetição criativa, à persistência do pensar, para além dos clichês do pseudopensamento ou das ideologias prêt-à-porter, listas para usar e logo descartar. A permanência reflexiva em torno de sua obra comprova que Nietzsche vislumbrou questões fundamentais de nosso tempo e, talvez, de todos os tempos. Essas questões, que levaram a intensos debates, suscitando diversas interpretações e perspectivas, no simpósio A fidelidade à terra, na UniRio, em 2001, deram origem a este livro. Conforme lembra o desafio de Zaratustra, é importante fugir das tutorias, dos dogmas, das igrejas, para se defrontar com o gelo e a solidão das grandes indagações. Até mesmo para fugir da tentação de erguer uma Igreja-Nietzsche, tentação que seria no fundo outro sintoma niilista. Pensar em torno de Nietzsche ou a partir de Nietzsche não é pensar como Nietzsche, ao contrário, consiste na possibilidade de reavaliar a realidade no seu conjunto, questionando até a própria filosofia nietzschiana. Nesta coletânea se conjugam diversas vozes, de vários lugares do Brasil e também do exterior. Nessa polifonia, Nietzsche não surge como o atiçador que conclama à uniformidade festiva ou celebratória, mas convida à abertura para a pluralidade crítica, incitando à difícil tarefa de assumir a singularidade, numa época tão sufocada pelo anonimato e pela massificação.