No verão de 1921, quando a tensão política na Irlanda chegava ao limite com a Guerra da Independência, a pequena Lucy Gault vê o destino da família sofrer uma reviravolta inesperada. Um acidente que envolve seu pai, um militar protestante e proprietário de terras, com um rebelde, morador da pequena cidade litorânea em que vivem, obriga a família Gault a sair da Irlanda, quando vê sua propriedade e suas vidas ameaçadas. Lucy, ainda menina, se recusa a deixar a paisagem que lhe é tão querida, e arma uma situação para obrigar a família a ficar - ou, ao menos, para expressar seu imenso desgosto com o fato. Entretanto, um golpe do acaso - grande tecelão de todo esse enredo - dá início ao longo bordado a ser tecido por Lucy - com espera, culpa, medo, ansiedade e esperança. Com uma prosa refinada e sóbria, Trevor apresenta este belo e triste livro, que conduz Lucy Gault da infância à maturidade. A delicadeza da narrativa, as tocantes descrições (da praia, da relação da menina com o lugar e com as pessoas) e a beleza de suas pequenas invenções para fazer passar os dias, faz com que Lucy - e, com ela, o leitor - se iluda com a passagem do tempo, embarcando nessa triste fábula, que não perde sequer por um instante a imensa poesia de William Trevor.