Mulato, pobre, revoltado, Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) utilizou seu enorme talento para combater as oligarquias, o racismo e as desigualdades sociais. Sua literatura, embora contundente, é marcada pela sátira, e Os bruzundangas são o seu grande exemplo. Bruzundangas é um país hipotético descrito por um brasileiro e que possui todos os problemas do Brasil. Lá ocorre o nepotismo desenfreado, há privilégios e favorecimentos aos políticos, a saúde e a educação são tratadas em segundo plano, num conjunto de mazelas que o leitor verá, publicadas após a morte do escritor, em 1923, mantém uma terrível atualidade. Tal qual sua obra-prima O triste fim de Policarpo Quaresma (1911), este livro enquadra-se naquilo que Lima Barreto qualificou de "literatura militante", cuja missão era "fazer comunicar umas almas com as outras (...) reforçando deste modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade". Tudo com o estilo e o humor que o colocam entre os gigantes da nossa literatura.