O romancista Roberto Drummond fez um sucesso nacional estrondoso com obras como Hilda Furacão e Hitler Manda Lembranças. O cronista Roberto Drummond colhia a sua migalha diária de sucesso, mas a sua voz ficava restrita às Minas Gerais. Merecia uma audiência mais ampla. Mineiro de nascimento (1933-2002) e de carteirinha, recusando-se a migrar para o Rio de Janeiro ou São Paulo, como tantos outros conterrâneos, Drummond manteve-se fiel a vida toda à cidade que adotou (nasceu em Santana dos Ferros, no interior do estado) e com a qual se identificou na vida e na morte. Foi o cronista de Belo Horizonte, das lendas tão mineiras retratadas na admirável Carta para a Moça Fantasma da Rua do Ouro, dos adultérios, dos crimes, do cotidiano banal e inesperado (a borboleta azul voando pela Savassi), das paixões e desenganos do povo das Minas Gerais, cujo espírito contraditório, barroco e moderno, tenta compreender em Por que Sonhas, Minas?, na qual faz "a psicanálise selvagem do estado", segundo observação do prefaciador das Melhores Crônicas Roberto Drummond, Carlos Herculano Lopes. Uma outra forma de fazer a psicanálise do povo era através das crônicas de futebol. Em Para Torcer Contra o Vento, Drummond (torcedor fanático do Atlético Mineiro) fez a declaração de amor mais bela e convicta que um time brasileiro já recebeu. Como cronista, ele foi muitas vezes um contador de histórias, pois a sua maneira de tentar entender a vida e o mundo era através da ficção. Assim, vários desses textos, classificados como crônicas, são na verdade pequenos contos. As crônicas reunidas neste volume foram transcritas diretamente dos jornais onde nasceram e conheceram a efêmera glória de cada dia. Dessa forma, na unidade do livro, levam ao público de todo o país os textos de um de seus cronistas mais importantes. Ainda bem. O que é bom aumenta de intensidade quando compartilhado.