Estamos nos esbarrando por aí, na vida artística e na boemia, há quarenta anos. A prova é esta caricatura que o Lan fez de um espetáculo que encenei em 1967, "O bravo soldado Schweik". O Hélio Ari, no centro, era o soldado; à direita, vemos Betty Faria e Cláudio Marzo, meus sócios na produção. Eu sou o gordinho de barba "collier" à esquerda. Mais tarde, Lan criou seu alter-ego, o Lanzinho: baixinho, gordinho, com um vasto bigode branco, sempre às voltas com mulatas triunfais. Ultimamente, por exigência de um personagem, raspei a barba e cultivei um vasto bigode branco. Fiquei a cara do Lanzinho e depois que casei com Andréa, minha triunfal mulata, passei a ser abordado nos botequins da vida pelos fãs do Lan, que não se convenciam de que eu não era ele. Alguns, despeitados, passavam a falar mal do pobre do Lan, que, inocente, vivia tranqüilo no seu sítio em Pedro do Rio, ao lado da sua mulata triunfal, Olívia. A verdade é que me pareço muito mais com a criatura, o Lanzinho, que o próprio criador, o Lan. Às vezes, acordo de manhã, me olho no espelho e penso: - "Eu não existo. Sou apenas mais uma criação genial do Lan". O mais surpreendente é que mulatas triunfais também confundiam o Lanzinho comigo.