No final dos anos 1970, o filósofo Michel Foucault (1926-1984) apresentou dois cursos em que fez uma "genealogia do Estado moderno": Segurança, território e população (1978) e Nascimento da biopolítica (1979). No primeiro curso, Foucault refletiu sobre as concepções de governo desde a Antiguidade até os primórdios da Era Moderna. Em Nascimento da biopolítica, sua atenção se concentrou na "governamentalidade" (neo-?logismo para designar as técnicas de governo) liberal e neoliberal. Além de tratar dos pensadores do liberalismo clássico, ele examinou detidamente duas escolas econômicas neoliberais: a alemã do pós-guerra (com Walter Eucken e Franz Böhm) e a de Chicago (com Friedrich Hayek, Gary Becker e Ludwig von Mises). A análise foucaultiana do neoliberalismo é uma das mais controversas de sua obra, por romper com consensos à esquerda e à direita. Paradoxalmente, foi uma das menos examinadas em profundidade. É nesse curso que se detém Geoffroy de Lagasnerie, em A última lição de Michel Foucault, a fim de investigar as razões do interesse do filósofo por uma doutrina econômico-política associada a governos conservadores. Segundo Lagasnerie, o objetivo de Foucault não foi nem denunciar o neoliberalismo, nem defendê-lo, mas fazer dele uma ferramenta de crítica ao pensamento político tradicional, à filosofia do direito e à teoria social. No pensamento neoliberal - com sua aversão ao Estado e sua defesa da diversidade do mundo social -, Foucault teria encontrado os instrumentos para desenvolver uma filosofia da emancipação política para nosso tempo. "Há quase 150 anos, Marx propôs romper com a crítica pré-capitalista do capitalismo; hoje é tempo de abandonar a crítica pré-liberal do neoliberalismo", afirma Lagasnerie.