Um partido de esquerda que chegue ao governo em qualquer sociedade democrática rapidamente escandaliza parte de seus eleitores ao assumir posições que contrariam princípios fundadores e a própria história. Por mais triste que possa ser tal constatação, não se encontrará sequer um exemplo histórico que não a confirme. Até partidos da esquerda européia, eleitos com ampla maioria parlamentar, foram levados a fazer chocantes opções direitistas que deixaram absolutamente perplexos muitos segmentos de seus alicerces sociais. Não se poderia esperar, então, que a vitória do PT em 2002 pudesse contrariar essa tendência. Foi ambivalente, com minoria parlamentar e sem qualquer sucesso expressivo no âmbito estadual. Pior: o principal derrotado foi o PSDB, partido que em outras circunstâncias históricas certamente deveria lhe dar a maior ajuda. Eram, pois, inevitáveis, e perfeitamente previsíveis, muitas guinadas à direita. Mas nada levava a supor que elas seriam tão numerosas e radicais.