Este livro revela-nos um mapa sociológico completo. Comércio e cultura encontram-se para unir os processos econômicos ao pensamento de uma época, para criar a harmonia entre o amor ao mundo e o amor a Deus, para unir a ação à contemplação. O mercador é um geógrafo porque viaja. É um homem de família porque aprecia o convívio entre os seus. É um sonhador porque lê com avidez o romance cavalheiresco. É um jurista e, ao mesmo tempo, um homem com um destino político situado no meio de dois mundos distintos. O mercador expressa a realidade econômica e cultural do Mediterrâneo. No final da Idade Média, o mercador barcelonês penetra no mundo dos investimentos não comerciais. É um sintoma da mutação dos valores e da crise social do mercantil, de evidentes conseqüências. Compra e vende mercadorias e especula com seus ganhos, mas não pensa em um mundo global e, por esta razão, não é capaz de se imaginar no contexto de um sistema imperial na Europa do futuro. Seria preciso esperar o século XIX para que o mercador barcelonês, já convertido em empresário, compreendesse a dimensão geográfica, econômica e mental do mundo. É possível que a levedura que faz crescer a massa de uma mentalidade mais aberta ao Novo Mundo seja, precisamente, esse sentido próprio do mar, ou o sentido próprio da cidade, ou ainda a estrutura social a que pertence. Este livro nos revela a força de um personagem medieval que procura situar-se no contexto da modernidade.