Ao longo dos últimos dois séculos, desde sua gênese, a questão penitenciária se apresenta como uma grave problemática global. Na atualidade organismos internacionais, gestores públicos, organizações não governamentais e estudiosos do mundo inteiro apontam a crise da instituição prisional, em uma crescente realidade de superlotação e condições desumanas de aprisionamento. A invenção da prisão coincide com a ascensão do modo de produção capitalista, substituindo o sistema penal do medievo pelo sistema penal característico da modernidade. A edificação deste empreendimento punitivo será acompanhada de distintos modelos prisionais e teorias fundamentadoras da pena, até alcançar seu atual panorama. O criminólogo Loïc Wacquant, ao refletir sobre o crescimento da prisão a partir das últimas décadas doséculo XX, com a implementação do modelo econômico neoliberal nos Estados Unidos, afirma que estamos diante do Grande Encarceramento. Essa onda punitiva na atualidade, expressa na hiperinflação da população carcerária, também será verificada em diversos países, sobretudo no Ocidente. No caso brasileiro, o histórico de autoritarismo, presente desde o colonialismo, na escravidão, nas ditaduras e na violência institucional generalizada delineia um sistema prisional peculiar.