As características fundamentais do processo de reestruturação do setor elétrico que ocorreu emnumerosos países no início dos anos 1990 foram a mudança de umambiente de monopólio baseado no custo para um ambiente de competição baseado no preço e o desmembramento das empresas de energia elétrica em três segmentos separados de geração, transmissão e distribuição e alteração em suas atividades. Atualmente, a eletricidade é transacionada nos mercados atacadistas pelos diversos participantes do mercado, como geradores, distribuidores, consumidores livres e comercializadores, a preços estabelecidos pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda. Consequentemente, os agentes do mercado estão expostos a riscos de preço, principalmente devido às singulares características físicas da energia elétrica. Essa exposição estimulou o surgimento da prática do gerenciamento de risco. As lições aprendidas dos mercados financeiros sugerem que os derivativos financeiros, quando bem entendidos e adequadamente utilizados, são benéficos para a repartição e o controle dos riscos indesejáveis, por meio de estratégias de hedging bem estruturadas. Examinaremos os diferentes tipos de instrumentos de hedge de eletricidade e a metodologia de utilização e de apreçamento de tais instrumentos. Em particular, será dado destaque ao papel desses derivativos na mitigação dos riscos e na estruturação de estratégias de hedging para geradores, distribuidores, consumidores livres e comercializadores de energia elétrica, quando aplicadas ao gerenciamento de risco. Analisaremos, em seguida, os fatores que influenciam a formação dos preços de curto prazo e futuros da eletricidade. A eletricidade, devido às suas características estocásticas, constitui o maior desafio para os pesquisadores e os agentes de mercado para modelar o comportamento do seu preço, que é o componente mais crítico para o apreçamento dos seus derivativos. Visto que os modelos econométricos oferecem melhor adequação para capturar as características peculiares dos preços da energia elétrica, concentraremos nossa análise nesses modelos. Na sequência, descreveremos os diferentes ambientes de transação nos mercados de eletricidade e os requisitos para o bom funcionamento do mercado atacadista de energia elétrica. O comércio da energia elétrica na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil com a descrição de seu perfil, sua estrutura, seus mercados, seus produtos, sua transparência e liquidez serão tratados em capítulos separados. Por fim, o estudo de casos exemplificados pela crise energética da Califórnia e pelo escândalo Enron serão tratados no Apêndice.