Em todos os contos há a figura do médico, exercendo sua profissão na adversidade de um contexto subdesenvolvido, porém com a convicção de estar cumprindo a sua função social. Este é o fio condutor da obra. Na tessitura das narrativas o autor coloca na boca dos personagens a realidade contraditória, em que as pessoas praticam atos, ora de anjos, ora de demônios, numa clara demonstração de sua compreensão da realidade e da sua sabedoria. Explora com sobeja propriedade a linguagem de quem vive na aridez da pobreza, na seara da violência e no cruel analfabetismo literal e político, o que confere maior realismo à obra. Denuncia, de modo sutil e belo, a devastação da natureza, como no conto O parto: Saímos, eu e o doutor, na ambulância veraneio e, na saída da cidade, entramos na mataria fechada, que naquele tempo era uma beleza. Tanta árvore frondosa, cipoeira, folhagens de variados tipos, flores da mata e orquídeas de várias cores. Assim procedendo, ausculta também o contexto em que ocorre a trama, mostrando as mazelas da sociedade, tornando, assim, a narrativa mais interessante e capaz de prender a atenção do leitor. É o caso do conto Um tiro, na bestunta: O delegado Bonifácio, tanto era preguiçoso, quanto obeso. Fora nomeado pelo famoso QI, não do que possuía, que deveria ser baixíssimo, mas do que Quem Indica, já que o costume da época era utilizar exclusivamente o critério de indicação política. Nestes e demais contos, Odir Rocha amarra-nos à beleza e à importância das coisas simples da vida e, ao mesmo tempo, da sua complexidade. Dessa forma, o autor nos faz pensar, comove-nos, leva-nos à indignação e nos diverte. E este é o verdadeiro papel do escritor. Odir Rocha