África! Que nos falta para desvendar os mistérios desse continente? Talvez um olhar mais atento, livre de estereótipos e preconceitos. Um olhar para dentro de nós mesmos, quem sabe? Um olhar para o Brasil. Fato é que pelo menos metade da História deste país se constrói a partir do elemento negro, e isso significa dizer que grande parte de nossa História ainda não foi contada. Ouvir as vozes da diáspora é reconhecer a força de um povo que, apesar de expropriado de seu território e arrastado para as Américas na triste condição de escravo, foi capaz de preservar sua cultura, sua visão de mundo, suas crenças e tradições. Ainda assim, quando nos vemos diante da necessidade de construir uma História do negro brasileiro, surge uma dificuldade com relação às fontes teóricas, uma vez que a oralidade sempre foi o principal meio de transmissão dos saberes de africanos e seus descendentes. No entanto, se recorremos ao mito, à memória, aos cânticos sagrados e rituais de um terreiro, por exemplo, deparamos com um instrumento particular e suficientemente grandioso para explicar a História de um povo, comprovando que nem mesmo a dominação conseguiu impossibilitar a reconstrução de sua identidade. O Candomblé é um aspecto fundamental da cultura negra, e a tentativa de reescrever uma História da África a partir do Brasil passa necessariamente pela questão da religiosidade. Sendo assim, buscar os significados intrínsecos dos rituais guardados nos terreiros, atentando para as experiências de sacerdotes e sacerdotisas e buscando uma visão de dentro para fora, vem ao encontro de uma contribuição que há muito se tenta esboçar no sentido de se compreender a presença, a obra e a importância do negro na formação do povo e da cultura deste país. Ao convidar pais e mães-de-santo para escrever as histórias de seus respectivos Orixás, a Editora Antiqua vai além de sua proposta de resgatar autores de grande valor e pouca lembrança. Resgata a dignidade de um povo e sua cultura, dando voz àqueles que nunca tiveram vez.