A Editora Globo acaba de reeditar um clássico quase desconhecido da literatura brasileira, Ecce Homo, conjunto de sermões de Eusébio de Matos - com edição de texto (incluindo rigorosa atualização ortográfica) e notas de José Américo Miranda e Valéria M. P. Ferreira, posfácio de Adma Muhama e cronologia sobre o autor. Eusébio de Matos vem a ser o irmão do poeta baiano Gregório de Matos, além de o discípulo mais dileto do padre Antônio Vieira. Se, por um lado, a proximidade com o maior poeta brasileiro da época e com um dos maiores estilistas da língua (Vieira seria referido por Pessoa como "o imperador da língua portuguesa") ofuscou o nome de Eusébio de Matos, por outro lado, essa mesma proximidade é a fiadora da grande qualidade literária dos seus sermões. O Barroco a que pertence Eusébio de Matos é definido por autores como Haroldo de Campos como sendo não apenas o período inicial, formativo, do que viria a ser a literatura nacional, como também a escola estética que, de certa forma, perpassa de modo profundo a arte brasileira de todos os tempos. Sendo Eusébio de Matos um dos mais importantes autores do Barroco brasileiro, apesar de muito menos conhecido do grande público, essa importância, e o próprio desconhecimento, justificam plenamente o interesse por essa edição. O tema dos sermões coligidos em Ecce Homo é o do Cristo ferido, o Cristo com suas chagas, depois do julgamento e antes da crucificação. Na retórica católica, que tem seu ápice justamente no Barroco a que pertence Eusébio de Matos (depois do auge da filosofia cristã com a Escolástica de Tomás de Aquino), as chagas de Cristo servem como ponto de partida sinedótico (que toma a parte pelo todo) para a construção de verdadeiras catedrais argumentativas, sem que os argumentos percam de vista a dimensão da empatia, ou do afeto, a partir da própria imagem do Cristo como homem ferido. E se, como querem tantos, o humanismo moderno não nasceu no Iluminismo laico, mas em certos aspectos da doutrina cristã, o Cristo ferido é um desses aspectos. O que, como não poderia deixar de ser em se tratando do Barroco, faz com que o livro transcenda a cultura brasileira para se inserir num âmbito mais amplo. Ecce Homo integra a coleção Clássicos Globo, que traz obras célebres da literatura universal e da língua portuguesa, retomando e ampliando um dos projetos editoriais mais marcantes da história recente do país, o acervo de traduções constituído nos anos 1930 e 1940 pela Editora Globo de Porto Alegre (que tinha, entre seus colaboradores, intelectuais como Erico Verissimo e Mario Quintana). A Editora Globo acaba de reeditar um clássico quase desconhecido da literatura brasileira, Ecce Homo, conjunto de sermões de Eusébio de Matos - com edição de texto (incluindo rigorosa atualização ortográfica) e notas de José Américo Miranda e Valéria M. P. Ferreira, posfácio de Adma Muhama e cronologia sobre o autor. Eusébio de Matos vem a ser o irmão do poeta baiano Gregório de Matos, além de o discípulo mais dileto do padre Antônio Vieira. Se, por um lado, a proximidade com o maior poeta brasileiro da época e com um dos maiores estilistas da língua (Vieira seria referido por Pessoa como o imperador da língua portuguesa) ofuscou o nome de Eusébio de Matos, por outro lado, essa mesma proximidade é a fiadora da grande qualidade literária dos seus sermões.