O espaço ficcional de Montaigne e Schlegel é subvertido pela ficção de Kafka, que desconsidera a crença iluminista no estado de direito. Luiz Costa Lima não se prende aos três padrões que estabilizaram Kafka para o leitor contemporâneo — e que acabaram afastando de seu fascínio a perturbação que o acompanhava. Analisada sob os pontos de vista existencial, religioso e psicanalítico, a obra de Kafka foi ajustada, segundo o professor, para caber dentro do modelo modernista da experiência estética.Costa Lima demonstra em “Limites da voz” justamente o desacordo entre o objeto kafkaniano e o paradigma da modernidade. Para ele, Kafka é o limite da experiência estética, como configurada a partir do século XVIII. Para o leitor que resista às leituras estabilizadoras da obra de Kafka, isto significa que, em tempo de instabilidade generalizada, também a ficção perde sua firmeza e as regras do jogo tornam-se voláteis.