Quando lançou o seu primeiro volume de contos, Osman Lins já era um romancista premiado. A precedência, no caso, explica a preferência. Ao longo de sua atividade literária, o escritor publicou apenas dois livros de contos e cinco romances, identificados pelamesma qualidade literária, a busca obstinada pela perfeição formal, segundo a lição de Flaubert.Os Gestos (1957) exigiu mais de dez anos de trabalho, o mesmo tempo consumido com Nove, Novena(1966). Escritor de formação clássica, Osman Lins seguiu em seu primeiro livro os modelos da narrativa tradicional, na linhagem machadiana. Em frases curtas e estilo trabalhado, recheado de imagens, retrata uma humanidade miúda, vivendo os seus pequenos dramas no recinto doméstico, angustiada, dominada pelo sentimento da solidão e de abandono, quase à margem da sociedade. Nove, Novena assinala a transformação das narrativas de Osman Lins, uma novidade na literatura brasileira. Os contos se desenvolvem em vários planos de narração, em fragmentos, como se fossem módulos, nos quais se movem os personagens, identificados por sinais gráficos. Termos e construções barrocas se juntam a ornamentos de linguagem de outras artes, como teatro, pintura, cinema. "A esses recursos funde-se o estilo preciso, belo, adequado para cada caso, numa tessitura própria de poesia", "mas distanciado do fácil consumo", "exigindo uma leitura empenhada", observa Sandra Nitrini no prefácio. Alguns desses contos, classificados pelos críticos como microrromances, alcançam uma grande intensidade de expressão, como o “Retábulo de Santa Joana Carolina” que, segundo José Paulo Paes, "enquadra o destino humano numa perspectiva cosmogônica, à maneira dos mistérios medievais, em que se inspirou o escrito". A crítica considera-o a obra-prima do autor.