A poesia de Marília Garcia está cheia de perguntas. Perguntas são uma faísca. E estão cercadas de ruído, hesitação e vontade de escuta. Você verá que os dois poemas desta reedição de Engano geográfico (que inclui Paris não tem centro) começam pela fala de outra pessoa. E é a voz do outro que os nomeia: paris não tem centro / ela me disse; é um engano geográfico estar aqui / ele diz. Então começo esta orelha dizendo que Marília Garcia escreve escutando. Mas digo também que ela escreve caminhando e registrando. a gente sobe a rua / notre-dame-de-lorette / eu gravo as pessoas / os cafés os carros a neve / os prédios. Entre o documentário e a ficção, esses textos são como filmes estão próximos dos procedimentos do cinema de Agnès Varda, para quem o acaso era um roteirista. A poeta está sempre em trânsito para escrever incorporando os acidentes, os enganos geográficos e os desvios, que não conhecem um centro. (...) Rafael Zacca