Menos de duzentos anos após o surgimento do primeiro grande romance moderno o Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, esse gênero literário ganharia um poderoso recurso: o roman à clef.Nascido nos salões literários franceses, ele consistia na introdução nas novelas de um personagem ficcional com características tomadas por empréstimo de alguém da sociedade, normalmente para expô-lo de forma satírica. O recurso foi logo aprovado e romances inteiros passaram a usar e abusar dele, por vezes com o próprio autor se integrando na trama.Na literatura do Brasil, essa forma de escrita é rara, e, por isso mesmo, é importante realçarmos sua utilização nesta obra de José Carlos Mello. Seu livro exemplifica o chamado paradoxo brasileiro: o ficcionista que tenta descrever o fantástico, mas que acaba retratando o cotidiano do país, no qual as criações mais absurdas perdem para a narrativa seca e objetiva da realidade.