O livro propõe uma discussão sobre a narrativa memorialista por meio da comparação entre duas obras literárias, uma brasileira e a outra italiana. De um lado, temos o quinto romance do semiólogo e escritor italiano Umberto Eco, A misteriosa chama da rainha Loana (2005), uma edição repleta de ilustrações que remetem aos anos de 1930 e 1940, apresentando um panorama da Itália naquele período. O protagonista, um bibliófilo, chamado Yambo, perde a memória pessoal, mas mantém intacta aquela livresca. Ao tentar recuperá-la, passa a discutir as relações entre memória individual e memória coletiva, adentrando o universo dos signos e abrindo uma discussão em torno de temas inerentes à semiótica. De outro lado, temos o quarto livro do cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda, Leite derramado (2009), uma obra nostálgica que também investiga as relações entre os dois tipos de memória. Seu protagonista é Eulálio Montenegro D¿Assumpção, um centenário carioca de família aristocrática decadente que, no hospital, em seu leito de morte, relembra fatos de sua vida pessoal, por trás dos quais se redesenha fatos da história do Brasil. Partindo do princípio de que os dois romances, no decorrer de suas narrativas, demonstram a capacidade da memória para registrar a própria história e para a constituição das identidades individual e nacional, o que se procura discutir nesta obra, a partir de estudos sobre a memória realizados por Santo Agostinho, Henri Bergson, Maurice Halbwachs, Jacques Le Goff, Paul Ricoeur, entre outros, são as formas utilizadas por Umberto Eco e Chico Buarque para o registro memorialístico, a fim de demonstrar que, ao recontar a história, ambos fazem uma homenagem à própria literatura.