Tendo em vista a tarefa clarificatória da Filosofia apontada por Wittgenstein no Tractatus, essa obra assume a tarefa de elucidar os conceitos envolvidos na discussão entre beneficência e autonomia na sociedade secular, bem como a implicação bioética que cada uma dessas abordagens aponta. Dessas elucidações surge a noção de bem-estar do paciente, que efetivamente abrange a concepção de bem que deve ser o fim (telos) da Medicina. Essa concepção de bem-estar é plenamente compatível com o modelo de beneficência-na-confiança, sustentado por Pellegrino & Thomasma e parcialmente compatível com a concepção autonomista, representada pelo princípio do consentimento, enunciado por Engelhardt. Como consequência da identificação do modelo de beneficência-na-confiança como o que melhor contribui para o bem-estar do paciente, tem-se como desdobramentos práticos a defesa do cuidado paliativo integral e intensivo, assim como de práticas médicas mais humanizadas, e, consequentemente, uma crítica à imoralidade de práticas que tenham como objetivo antecipar a morte de pacientes, como o suicídio assistido, por ser contra o telos da medicina e a concepção de bem-estar aqui defendida.