Sanshiro Ogawa [lê-se "Sanchirô"] sai do interior do Japão rumo à deslumbrante capital para estudar literatura, mas a transição à vida adulta não será como ele imagina. Aqui, na primeira parte da trilogia informal de Natsume Soseki composta ainda por E Depois e O Portal, o verdadeiro aprendizado do protagonista se dá mais na contemplação das formosas nuvens do céu azul de Tóquio do que nas supostamente edificantes aulas da universidade. Neste romance de formação, ambientado na virada do século XIX para o XX, o ingênuo personagem-título atravessa as ruínas de um sistema de ensino caduco, formado por alunos que fingem que estudam e por falsos "mestres" cuja fachada intelectual não resiste a um olhar mais atento. Assim, no ir e vir de nosso pacato calouro, desvendamos, por exemplo, o soberbo professor Hirota, que passa seu tempo expelindo "fumaça filosófica" pelo nariz, ou ainda o artista Haraguchi, retratista de pincelada e constituição robustas, partidário das modernas tendências europeias. Perto deles, no entanto, Sanshiro não passa de um xucro, sobretudo no plano pessoal, ao evidenciar seu embaraço e sua pouca habilidade com o sexo oposto a partir da afeição que passa a nutrir pela instigante Mineko.