O homem de nosso tempo vive o conflito de ter que cumprir normas como se fossem cartilhas de conduta, colocando-se a serviço do politicamente correto. Ao mesmo tempo, pretende-se livre e caprichoso para viver às últimas consequências suas vontades. Por isto, ele sonha em despojar-se de suas incertezas, de sua dor de existir, valendo-se do extraordinário avanço das técnicas científicas, que costumam saber tudo, responder a tudo, e recua da responsabilidade em decidir solitariamente sobre seus atos. Ética não pressupõe valores morais, nem prescrições de condutas dadas a priori. Ela é o questionamento incessante de um sujeito, no ponto em que ele se vê angustiado e dividido entre a sua palavra e seu ato. Se perdermos, tanto na esfera privada quanto pública, a capacidade de nos espantarmos e nos questionarmos a respeito de nossos atos, corremos o risco de assumir uma posição passiva e infantilizada. Abdicamos de nossa cidadania ao mesmo tempo que apelamos para um Estado paternalista [...]