João Pedro é obrigado a fugir de sua terra natal e se esconde na terra de seus avós. Estes que haviam fugido de uma Alemanha em guerra e, sem escolha, desembarcaram no Brasil de Getúlio Vargas, sem direito a falar sua própria língua. Instalado em Berlim, João Pedro vai descobrir aquilo que seus avós já tinham experimentado aqui: o sentimento de não pertencer. Sua mãe era filha de alemães e dela não restou nada, nem o sobrenome. João Pedro não tinha nem um sobrenome alemão que pudesse lhe dar algum conforto no país. Esse romance de Caio Yurgel explora esse não lugar vivido pelo personagem central, sentimento intensificado ao longo da narrativa pelas histórias das pessoas que cruzam seu caminho: os jovens filhos de turcos, que são turcos na Alemanha e alemães na Turquia. O filósofo Ján Kovác, que mora em Berlim desde que era estudante, mas é eslovaco. Alice, a quem ele procura como se procurasse a si mesmo. Anka, que anseia preencher as páginas em branco de sua própria história. E mesmo os alemães, os eternos culpados. Cada um vivendo seu exílio, a sua impossibilidade da poesia. O leitor tem em mãos uma narrativa contundente, a história de um homem cindido como uma Berlim, cindido como uma Alemanha do pós-guerra.