Uma das dificuldades ao se tratar da antropologia pascaliana é a tendência contemporânea em reduzi-la sempre a uma de suas extremidades temáticas: ou Pascal é um teólogo jansenista, portanto datado, ou é um moralista cético, assombrado pela religião. Para Luiz Felipe Pondé, Pascal é essencialmente um pensador do mistério da existência humana, em termos teológicos, embora participe da rica tradição moralista francesa, praticando uma fenomenologia empírica das fraquezas e misérias humanas. Não faz psicologia, mas espiritualidade. Como se o filósofo abandonasse a diferença entre homem interior e exterior, assumindo, aliás, que a acentuação exagerada dessa diferença é uma razão segura para perder de vista um projeto consistente de antropologia.