Transitando entre as principais correntes teóricas aplicáveis aos estudos de gênero, Francielle Elisabet Nogueira Lima rejeita o reducionismo autorreferente das digressões jurídicas mais corriqueiras, sem se desatentar à mais renovada doutrina que trabalha com a temática. Adiciona, para isso, mais um elemento que concede singularidade e coragem à sua iniciativa: a perspectiva do transfeminismo como porta de entrada para a análise dos movimentos jurídicos de valoração de tais vivências não-binárias, as quais interpelam os limites dos esquemas tradicionais pelos quais funciona o direito. Ciente de sua missão social, a autora evidencia a situação de vulnerabilidade da condição transgênera e da ampla ocorrência da judicialização do direito à identidade de gênero, bem como critica, na própria racionalidade jurídica, a ideia do chamado binarismo sexual (e de gênero) que promove assimetrias com refl exos sociais entre os gêneros e rechaça experiências que fogem à cisnormatividade.